À noite a lagarta saía da terra e vinha roer as folhas verdes dos batatais. Então os homens e as mulheres largarvam para asa courelas, de balde suspenso, para colherem a lagarta. Bichos moles, esbranquiçados, que encolhiam e afastavam os anéis no andar. Os homens vinham moídos do trabalho e rogavam pragas à lagarta, as mulheres levantavam alarido e as devotas garantiam que ali andava o castigo de Deus. A água gorgolejava no rego longo, a Lua lá andava pelo céu e os homens acocoravam-se raivosos, junto dos pezeiros, de modo que as lanternas espalhadas pelas courelas, e a Lua, e a frescura da noite, a as águas palrando, faziam sorrir de delícia aqueles senhores que vinham passar o Verão à aldeia - que engraçado! E o povo amontoava-se, nunca se vira uma coisa assim. As mulheres mostravam os caldeiros com o fundo coalhado de bichos, bem feios, e colhiam as lágrimas no avental negro
- Vai ser um ano de fome.
vagão «j»
Vergílio Ferreira
Bertrand, 3ªed, 1982
- Vai ser um ano de fome.
vagão «j»
Vergílio Ferreira
Bertrand, 3ªed, 1982
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