Que é que me diz à evocação a montanha onde nasci? Os uivos do vento numa noite de tempestade, a neve do início genesíaco. Mas o mar diz-me da constante inquietação e só a montanha me lembra o estável e o eterno. Massa enorme, nascida do ventre da Terra, está ali, repousada sobre o seu ser, feita da substância de eternidade. Assim ao contemplá-la eu próprio repouso sobre mim, esvaziado do que me oprime ou inquieta, transmudando-me ao que nela há de estável e denso e alastrado aos poderes cósmicos. Como tudo o que é imenso dissolve-me a pequenez ou equilibra-a no que a transcende como se transposta à sua grandeza que me reabsorve em si e me dissipa a minha própria individualidade. Que é que me fala à evocação da montanha que perdi? Não sei. Talvez apenas a humildade do meu ser que se desvanece.
escrever
Vergílio Ferreira
edição de Helder Godinho
Bertrand, 2001
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Vergílio Ferreira
edição de Helder Godinho
Bertrand, 2001
tão tão isso
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